Educação Escolar de Pessoas com Surdez
- Atendimento Educacional
Especializado em Construção –
A existência de um
embate político e epistemológico entre gestualistas e oralistas, ainda hoje, tem
prejudicado o desenvolvimento das pessoas com surdez, quando canaliza a atenção
dos profissionais da escola para o problema da língua em si.
Apesar da nova
política de Educação Especial na perspectiva inclusiva, esta bem definida,
muitas questões e desafios ainda estão para ser discutidos, principalmente no
espaço escolar, no que se refere às práticas de ensino e aprendizagem na escola
comum pública e também privada, com vistas ao desenvolvimento das
potencialidades das pessoas com surdez.
Assim, vemos que a tendência bilíngüe: a LIBRAS e a Língua Portuguesa, em
suas variantes de uso padrão, ensinadas no âmbito escolar, devem ser tomadas em
seus componentes histórico-cultural, textual, interacional e pragmático, além
de seus aspectos formais, envolvendo a fonologia, morfologia, sintaxe, léxico e
semântica.
Desta forma, legitimamos
a abordagem bilingüe e aplicamos a obrigatoriedade dos dispositivos legais do
Decreto 5.626 de 5 de dezembro de 2005, que determina o direito de uma educação
que garanta a formação da pessoa com surdez, em que a Língua Brasileira de
Sinais e a Língua Portuguesa, preferencialmente na sua modalidade escrita,
constituam línguas de instrução, e que o acesso às duas línguas ocorra de forma simultânea no ambiente
escolar, colaborando para o desenvolvimento de todo o processo educativo.
Nesse contexto de
compreensão é que legitimamos a construção do Atendimento Educacional
Especializado para pessoas com surdez, tendo como função organizar o trabalho
complementar para a classe comum, com vistas à autonomia e à independência
social, afetiva, cognitiva e lingüística da pessoa com surdez na escola e fora
dela, numa ação
pedgógica que se realiza por meio de exercícios reflexivos, intuitivos e
abstratos, baseados na complexidade do fenômeno inter e intra humanos e no meio
vivencial, de forma processual, exigindo muita investigação e atos educativos
ligados à necessidade do aluno com surdez.
Dessa forma, o AEE PS respeita princípios pedagógicos essenciais, que
garantem o acesso às duas línguas obrigatórias para o atendimento do aluno com
surdez, envolvendo três momentos didático-pedagógicos:
·
AEE em Libras:
Esse atendimento do AEE em Libras ocorre diariamente, em horário
contrário aos da sala de aula comum. Nesse atendimento, o professor acompanha o
plano de conteúdo oficial da escola de acordo com a série ou ciclo que o aluno
está cursando. Os conteúdos curriculares em Libras devem ser ministrados
antecipadamente ao trabalhado da sala de aula comum, garantindo uma melhor
associação dos conceitos nas duas línguas.
·
AEE para o ensino da Língua Portuguesa:
Esse atendimento acontece na sala de aula multifuncional e em horário
diferente ao da sala de aula comum. Todo o ensino é desenvolvido por uma
professora, preferencialmente, formada em Letras e que conheça os pressupostos linguísticos
e teóricos que norteiam o trabalho do ensino de português escrito para pessoas
com surdez. O objetivo desse atendimento é desenvolver a competência linguística,
bem como textual, nas pessoas com surdez, para que elas sejam capazes de gerar sequências
linguísticas.
·
AEE para o ensino de Libras:
O atendimento inicia-se com o diagnóstico do aluno e ocorre de acordo com
a necessidade, em horário contrário aos das aulas, na sala de aula comum. Esse
trabalhado é realizado pelo professor e/ou instrutor de libras (preferencialmente,
por profissionais com surdez), de acordo com o estágio de desenvolvimento da
língua de sinais em que o aluno se encontra. O atendimento deve ser planejado com
base no diagnóstico do conhecimento que o aluno tem a respeito da língua de
sinais.
Neste texto, tivemos o propósito de demonstrar a
possibilidade das pessoas com surdez estudarem na escola comum numa perspectiva
inclusiva, com o atendimento educacional especializado oferecido como
complementar a classe comum, visando ao pleno desenvolvimento e aprendizagem
por meio de Libras e da Língua Portuguesa escrita. Assim, nesse processo educativo de contatos humanos,
a educação no AEE PS significa preparar para a individualidade e a
coletividade, provocando um processo comunicacional-dialogal-global.
Refência:
DAMÁZIO, M.F.M.; FERREIRA, J. Educação Escolar de Pessoas com
Surdez – Atendimento Educacional Especializado em Construção. Revista Inclusão:
Brasília: MEC, V.5, 2010. p. 46-57.