quarta-feira, 23 de abril de 2014



DEFICIÊNCIA MÚLTIPLA E SURDOCEGUEIRA (DMU)


1-  DEFICIÊNCIA MÚLTIPLA:

São consideradas pessoas com deficiência múltipla aquelas que "têm mais de uma deficiência associada. É uma condição heterogênea que identifica diferentes grupos de pessoas, revelando associações diversas de deficiências que afetam, mais ou menos intensamente, o funcionamento individual e o relacionamento social" (MEC/SEESP, 2002).
As características específicas apresentadas pelas pessoas com deficiência múltipla lançam desafios à escola e aos profissionais que com elas trabalham no que diz respeito à elaboração de situações de aprendizagem a serem desenvolvidas para que sejam alcançados resultados positivos ao longo do processo de inclusão. Esses alunos constituem um grupo com características específicas e peculiares e, consequentemente, com necessidades únicas. Por isso, faz-se necessário dar atenção a dois aspectos importantes: a comunicação e o posicionamento

  • COMUNICAÇÃO:

Todas as interações de comunicação e atividades de aprendizagem devem respeitar a individualidade e a dignidade de cada aluno com deficiência múltipla. Isto se refere a pessoas que possuem como característica a necessidade de ter alguém que possa mediar seu contato com o meio.

Todas as pessoas se comunicam, ainda que em diferentes níveis de simbolização e com formas de comunicação diversas; assim, considera-se que qualquer comportamento poderá ser uma tentativa de comunicação. Dessa maneira, é preciso estar atento ao contexto no qual os comportamentos, as manifestações ocorrem e sua frequência, para assim
compreender melhor o que o aluno tem a intenção de comunicar e responder.

  • POSICIONAMENTO:

É indispensável uma boa adequação postural. Trata-se de colocar o aluno sentado na cadeira de rodas ou em uma cadeira comum ou, ainda, deitado de maneira confortável em sala de aula para que possa fazer uso de gestos ou movimentos com os quais tenham a intenção de comunicar-se e desfrutar das atividades propostas. Não se pode esquecer, por exemplo, que muitas vezes o campo visual do aluno ou mesmo sua acuidade visual poderão influenciar os movimentos posturais de sua cabeça, pois irá tentar buscar o melhor ângulo de visão, aproveitando seu resíduo visual, inclinando-a ou levantando-a. Esses movimentos poderão sugerir que a pessoa não está na melhor posição. Isso, porém, é um engano, pois na verdade ela pode estar adequando sua postura.

  • RECURSOS PARA A APRENDIZAGEM DE ALUNOS COM SURDOCEGUEIRA E DEFICIÊNCIAS MÚLTIPLAS:
  • OBJETOS DE REFERÊNCIA DAS ATIVIDADES:

Um boné, por exemplo, pode ser, para um aluno com surdocegueira, um objeto que antecipa a atividade de orientação e mobilidade.





(Fonte: Ahimsa, 2006).


  • CAIXAS DE ANTECIPAÇÃO:

As caixas de antecipação devem ser utilizadas com crianças que ainda não têm nenhum sistema formal de comunicação. Ela permite conhecer os primeiros objetos de referência que anteciparão as atividades e o conhecimento das primeiras palavras.
(Fonte: Ahimsa, 2005).






  • CALENDÁRIOS:

Os calendários são instrumentos que favorecem o desenvolvimento da noção de tempo e que ajudam os alunos a estabelecer e compreender rotinas. Os calendários também são úteis no desenvolvimento da comunicação, no ensino de conceitos temporais abstratos e na ampliação do vocabulário, conforme Maia et AL (2008).
       














  • ALTERAÇÕES NO ÂNGULO E NA DISTÂNCIA:

O melhor posicionamento para aluno com baixa visão e paralisia cerebral para realização Coordenação olho-mão. Fonte (Rago & Cardoso. Posicionando a criança com distúrbio neuro-motor e baixa visão. Guia para pais. São Paulo: Irmandade da Santa Casa de Misericórdia de São Paulo, s. d.).
A criança com deficiência múltipla (baixa visão e problemas neuromotores) com quatro anos está posicionada na posição deitada de lado com apoio da calça da vovó (material confeccionado com uma calça jeans e diferentes materiais para enchimento (espuma, palha, tecidos), o brinquedo é colocado a sua frente permitindo a manipulação e alcance por estar no seu campo visual.



2-  SURDOCEGUEIRA:

Para entender o que é surdocegueira, faz-se necessária uma explicação sobre a sua grafia. Conforme Lagati (1995, p. 306), a:

Surdocegueira é uma condição que apresenta outras dificuldades além daquelas causadas pela cegueira e pela surdez. O termo hifenizado indica uma condição que somaria as dificuldades da surdez e da cegueira. A palavra sem hífen indicaria uma diferença, uma condição única e o impacto da perda dupla é multiplicativo e não aditivo.

Para McInnes (1999), a premissa básica é que a surdocegueira é uma deficiência única que requer uma abordagem específica para favorecer a pessoa com surdocegueira e um sistema para dar este suporte. O referido autor subdivide as pessoas com surdocegueira em quatro categorias:
  • Indivíduos que eram cegos e se tornaram surdos; 
  •  Indivíduos que eram surdos e se tornaram cegos; 
  •  Indivíduos que se tornaram surdocegos; 
  •  Indivíduos que nasceram ou adquiriram surdocegueira precocemente, ou seja, não tiveram a oportunidade de desenvolver linguagem, habilidades comunicativa ou cognitivas nem base conceitual sobre a qual possam construir uma compreensão de mundo.

  • TIPOS DE SURDOCEGUEIRA:

A surdocegueira pode ser:
ü  Congênita
ü  Adquirida

CONGÊNITA: Denomina-se surdocego congênito quem nasce com esta única deficiência, como por exemplo pela rubéola adquirida no ventre da mãe.

ADQUIRIDA: A surdocegueira adquirida é quando a pessoa nasce ouvinte, vidente, surda ou cega e adquire, por diferentes fatores, a surdocegueira.
O mesmo autor (1999) relata que muitos indivíduos com surdocegueira congênita ou que a adquiram precocemente têm deficiências associadas como: físicas e intelectuais.

Assim, as quatro categorias mencionadas podem ser agrupadas em Surdocegos Congênitos ou Surdocegos Adquiridos. E dependendo da idade em que a surdocegueira se estabeleceu pode-se classificá-la em Surdocegos Pré-lingüísticos ou Surdocegos Pós-lingüísticos.

  • CLASSIFICAÇÃO DE ACORDO COM A ÉPOCA DE AQUISIÇÃO:

  • Surdocego pré-linguístico: classifica-se como aquele que apresenta a surdocegueira congênita (no período gestacional), após o nascimento, mas antes da aquisição da linguagem ou surdez antes da aquisição da linguagem e posterior cegueira.   
  •  Surdocego pós-linguístico: classifica-se assim, aquele que adquiriu surdocegueira após a aquisição da linguagem ou cegos com posterior surdez.

  • FORMAS DE COMUNICAÇÃO: 

  •  
  • Alfabeto manual - Consiste em fazer, com a mão, um sistema de signos sobre a palma do interlocutor. São variados os códigos adotados nesse procedimento; a forma mais usual é aquela onde cada letra é representada pelas diferentes posições dos dedos e da mão.








  •  Língua de Sinais - Consiste em uma forma de comunicação construída no espaço através de configurações das mãos em movimentos diferentes e pontos de contato no corpo.








  • Tadoma - Método de linguagem receptiva onde a pessoa surda-cega, através do tato, decodifica a fala do seu interlocutor. Consiste em colocar a mão no rosto do locutor de tal forma que o polegar toque, suavemente, seu lábio inferior e os outros dedos pressionem, levemente, as cordas vocais. Este procedimento possibilita a interpretação da emissão dos sons através do movimento dos lábios e da vibração das cordas vocais.
  • Sistema Braille - Sistema de escrita e leitura tátil criado por Louis Braille, em 1824. Ainda aluno da "Instituition des Jeunes Aveugles", em Paris, o jovem cego Louis inspirado na "grafia sonora", idealizada pelo Capitão de Artilharia Carlos Barbier de la Serre, inventou o Sistema, ainda hoje utilizado, com pequenas modificações, em todo o mundo. Consiste no arranjo de seis pontos em relevo, dispostos em duas colunas de três pontos. As diferentes posições desses seis pontos permitem a representação de todas as letras do alfabeto, dos sinais de pontuação, dos símbolos da matemática, da música e outros.


  • AÇÕES QUE FACILITAM A INTERAÇÃO COM AS PESSOAS COM SURDOCEGUEIRA:

1.  Ao aproximar-se de um surdo-cego, deixe que ele perceba sua presença com um simples toque.
2.  Qualquer que seja o meio de comunicação adotado faça-o gentilmente.
3.  Combine com ele um sinal para que ele o identifique.
4.  Aprenda e use qualquer que seja o método de comunicação que ele saiba. Se houver um método, conheça-o, mesmo que elementar.
5.  Se houver um método mais adequado que lhe possa ser útil, ajude-o a aprender.
6.  Tenha a certeza de que ele o percebe, e que você também o está percebendo.
7.  Encoraje-o a usar a fala se conseguir, mesmo que ele saiba apenas algumas palavras, para os que têm resíduos auditivos.
8.  Se houver outras pessoas presentes, avise-o quando for apropriado para ele falar.
9.  Avise-o sempre do que o rodeia.
10.  Informe-o sempre de quando você vai sair, mesmo que seja por um curto espaço de tempo. Assegure-se que fica confortável e em segurança. Se não estiver, vai precisar de algo para se apoiar durante a sua ausência. Coloque a mão dele no que servirá de apoio. Nunca o deixe sozinho num ambiente que não lhe seja familiar.
11.  Mantenha-se próximo dele para que ele se perceba sua presença.
12.  Ao andar deixe-o apoiar-se no seu braço, nunca o empurre à sua frente.
13.  Utilize sinais simples para avisá-lo da presença de escadas, uma porta ou um carro.
14.  Um surdo-cego que esteja se apoiando no seu braço, perceberá de qualquer mudança do seu andar.
15.  Seja cordial, exerça sua consideração e senso comum.
16.  Escreva na palma da mão do surdo-cego.
a.   Qualquer pessoa que saiba escrever letras maiúsculas pode fazê-lo na mão do indivíduo surdo-cego, além de traços, setas, números, para indicar a direção, e do número de pancadas na mão, que podem indicar quantidades.
b.   Escreva só na área da palma da mão e não tente juntar as letras. Quando quiser passar a escrever números, faça um ponto, com o indicador, na base da palma de sua mão, isso lhe indicará que dali em diante virá um número.

  • ALGUMAS ORIENTAÇÕES PARA PROFESSORES:


  • Evite o toque de muitas mãos;
  • Planeje atividades funcionais para o aluno; 
  •  Não infantilize, considere sua idade cronológica; 
  •  Criar uma rotina previsível, com uma possível comunicação; 
  •  Estabelecer uma relação de confiança; 
  •  Respeitar o tempo de aceitação; 
  •  Desenvolver um diálogo não verbal, utilizando os movimentos da criança; 
  •  Utilizar as habilidades que o aluno apresentar; 
  •  Enfocar o processo de aprendizagem e não resultados; 
  •  Perceber suas intenções comunicativas; 
  •  Dar novo significado a objetos e pessoas; 
  •  Respeitar o tempo do aluno e não ser invasivo.




  • REFERÊNCIAS:


  • BOSCO, Ismênia C. M. G.; MESQUITA, Sandra R. S. H.; MAIA, Shirley R. Coletânea UFC-MEC/2010: A Educação Especial na Perspectiva da Inclusão Escolar - Fascículo 05: Surdocegueira e Deficiência Múltipla (2010). Capítulo 1 - A pessoa com Surdocegueira. Capítulo 2 - A pessoa com Deficiência Múltipla. Capítulo 3 - Necessidades Específicas das Pessoas com Surdocegueira e com Deficiência Múltipla;

  •  Fonte: Revista Ciranda da Inclusão, 2010;

  •  http://guarulhos.blogspot.com.br/p/comunicando-se-com-um-surdocego.html;

  •  SERPA, Ximena Fonegra, Comunicação para Pessoas com Surdocegueira. Tradução do livro Comunicacion para Persona Sordociegas, INSOR-Colômbia 2002.